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Dólar em fuga: o que está alimentando a aversão ao risco dos investidores?
A moeda americana tem atingido máximas que não eram vistas desde março enquanto o Ibovespa acumulou baixas nos últimos dias
Quem acompanha a cotação do dólar tem observado que, após quedas consecutivas, a moeda americana voltou a ultrapassar a barreira dos R$ 5, atingindo máximas que não eram vistas desde março. Já o Ibovespa, vem acumulando mais baixas do que altas nos últimos dias. A razão para tal não é uma novidade: a aversão ao risco por parte dos investidores.
Contudo, esse sentimento tem sido alimentado por diferentes fatores que, combinados, fazem os investidores baterem em retirada de mercados emergentes. O “clima” pessimista, segundo Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX, tem uma das origens que vai além das fronteiras estadunidenses. Isso porque as economias globais estão desacelerando.
“Tivemos dados econômicos mais fracos para a União Europeia, que gerou temores de uma estagflação. Além disso, temos uma recuperação econômica da China mais lenta do que o esperado por analistas – ainda que dados mais recentes tenham vindo um pouco melhores, a tendência de 2023 é que o país cresça abaixo daquilo que se esperava.”
Escalada dos juros nos EUA
Ainda que todo o globo esteja em compasso de desaceleração, isso não significa que a aversão não conta também com fatores internos às fronteiras americanas. Na última Super Quarta, o comitê responsável pelas decisões monetárias do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) manteve a taxa de juros inalterada no intervalo entre 5,25% e 5,5% ao ano - que dão sinais da resiliência de uma economia que ainda está aquecida. “Embora já tenha um ano e meio de aperto monetário, com ciclo de alta de juros, os investidores não enxergam no horizonte o ponto em que o Fed deve começar a cortar os juros.”
O especialista lembra que o banco central americano permanece cauteloso com a possibilidade de um cenário inflacionário retornar. “A inflação nos últimos meses tem vindo mais fraca, porém os dados econômicos continuam muito fortes. Crescimento mais forte e mercado de trabalho aquecido são fatores de risco, não havendo razões que justifiquem o início de um afrouxamento monetário”.
Mas a própria alta na taxa de da curva de juros americana em si, no último mês, contribuiu para a recente saída da moeda, afirma Laszlo Lueska, sócio gestor da Octante. “Quando as taxas de juros americanas aumentam, que são os mesmos juros do dólar, a moeda fica mais atrativa. O diferencial de juros entre o nosso e lá fora diminui. Ou seja, fica com menos prêmio para investir aqui, em reais, e relativamente mais atrativo para o investidor levar esse dinheiro para fora, o que gerou essa fuga do dólar nas últimas semanas”, aponta.
Treasuries nas alturas
Rafael Meyer, gestor da Solutions MFO, aponta que tem havido uma valorização generalizada dos treasuries norte-americanos, principalmente nos títulos mais longos, como os de dez e 30 anos. “Por ser a moeda de um país economicamente forte, faz com que nesse cenário de ‘risk-on and risk-off’ os investidores procurem ativos de proteção, e o dólar acaba sendo um instrumento bastante utilizado.”
A mesma linha é seguida pelo analista de Inteligência de Mercado da StoneX, que frisa que com o atual cenário de pouco apetite ao risco, ganham os ativos de maior segurança. “Se você pegar União Europeia, Japão, Suíça, Suécia e Reino Unido, o maior juros básico ainda está longe do percentual americano. Além disso, o dólar é a moeda principal do sistema financeiro internacional e os EUA, hoje, é o país que tem o melhor desempenho econômico de todas essas nações. O investidor só tem razões para investir nos EUA, então ele ainda encontra um título seguro, sem possibilidade de calote e que paga super juros? Todo mundo está indo investir em títulos de renda fixa americana.”
Fonte: Site Revista Exame
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